domingo, 15 de abril de 2012

Aparente desolação


Ocupados demais com seus afazeres egoístas estranhos passam pelas ruas abarrotadas de transeuntes que inconscientemente disputam o triste título de ser “humano mais egocêntrico do mundo”.

De cabeça baixa, com um aparente temor em encarar desconhecidos, o pequeno adolescente, estranho aos olhos de muitos, caminha. Mochila preta nas costas, livros demasiadamente pesados que o obriga a curvar-se para frente, provocando fortes dores, enquanto esbarra em um e outro, tropeções tentam conduzi-lo ao chão.

Ainda pela manhã seu pai fez um discurso sobre a necessidade de ser forte, pois o mundo é mau e repleto de seres detestáveis, discurso repetido diariamente, às vezes mais de uma vez em um único dia. Ele caminha e se aproxima da escola onde recebe inúteis lições, 90% das quais jamais usará na vida prática.

Mauricinhos e patricinhas conseguem com toda a sua arrogância sufocar os 500 estudantes que caminham, discutem, correm, brincam pelos dois andares de escadarias, procurando não se aproximar demais para não aborrecê-los.

Deslocado de todo esse mundo de futilidade, Yan – esse é o seu nome, mais um fator de diferença – adentra essa selva de pedras e tribos distintas, no entanto, trajadas com as mesmas vestimentas, tênis branco ou preto, calças azuis, camisetas brancas-com a logomarca simplista da escola no peito esquerdo - e jaqueta azul, como se não fizesse calor o bastante.

Além de seus cabelos muito pretos, pele branca, corpo magro, porém ser fisicamente bonito, ele entra. Ninguém o nota, ninguém o vê. Em um local mais distante abre a sua mochila e tira um pequeno caderno de capa preta e senta-se me uma calçada, concentrado nas palavras que vem à sua mente perturbada.

Toda aquela futilidade juvenil correndo ao seu redor, o entristece, mas nada faz nada além de escrever suas poesias consoladoras. As ideias fluem como um poço de água infinita. Não protesta, seu coração está cheio de tristeza e a ameniza com palavras antes do toque da campainha anunciando o começo das atividades escolares.

Sempre triste, cabisbaixo, ele caminha em direção à sua aula de estudo habitual. Começa a ser notado por psicopatas juvenis que o consideram fraco, mas em meio à tristeza e aparência de debilidade se esconde um ser resoluto, consciente do que é o orgulho de prezar pela honra.

Embora caminhe só e o seu brinco negro na orelha esquerda acusem uma discreta rebeldia, ele sabe que não está desamparado. Ao lado, flutuando levemente, há uma dama, roupas negras, cabelo longo e negro, pele branca e asas grandes e sombrias.

A sensação de companhia o permite mais do que a força que precisa para um dia em meio a futilidade imensurável de pessoas cujos corações já morreram, e corrompidos pela imundície desse mundo, pouco tem a oferecer. Mais um dia, seis horas de estudo, brincadeiras sem graça e apesar da aparente debilidade, Yan segue resoluto a enganar a todos e a fortalecer a sua missão de perpetuar a arte.


*Aermo Wolf

Um comentário:

  1. Nossa! Muito bom!
    Identifiquei-me. Obrigada por essas belas palavras...

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